Toxoplasmose em São Paulo: O Que Aprendemos com o Último Surto?

A toxoplasmose é uma infecção causada pelo Toxoplasma gondii, um protozoário que pode ser adquirido por meio da ingestão de alimentos e água contaminados ou pelo contato com fezes de gatos infectados. Embora a maioria dos casos seja assintomática ou leve, a doença pode causar manifestações graves, especialmente em pacientes imunossuprimidos e em mulheres grávidas. No entanto, um aspecto menos abordado, mas de grande importância, é o impacto da toxoplasmose ocular, que pode levar a complicações sérias na visão.
Um estudo recente, publicado nos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia pela oftalmologista Luciana Finamor e equipe, documentou um surto de toxoplasmose que atingiu 83 pessoas na cidade de São Paulo no início de 2019. Dessas, quase 5% tiveram manifestação ocular. “A partir desses casos e do grande número de resultados de sorologia positiva, foi feito um rastreio, que revelou a relação desses indivíduos com duas prováveis fontes de contaminação. Pelas características clínicas e demográficas, acredita-se que alimentos vegetais mal lavados foram a causa da exposição desse grande número de pessoas, quase ao mesmo tempo. Uma parte delas esteve num mesmo restaurante e o segundo grupo, em uma festa.”
O estudo revelou achados importantes sobre a dinâmica da transmissão e os riscos envolvidos na oftalmologia. Investigamos diversos pacientes que apresentaram sinais da doença, avaliando as prováveis fontes de contaminação e os fatores que poderiam ter contribuído para a disseminação do protozoário.

Fontes Prováveis de Transmissão
Uma das principais hipóteses levantadas pelo estudo foi a relação do surto com o consumo de vegetais contaminados. Alguns dos paciente afetados eram vegetarianos. Além disso, o excesso de chuvas no período que atencedeu o surto pode ter sido um fator determinante na contaminação de alimentos nos centros de abastecimento e armazenamento.
Risco na Oftalmologia
A toxoplasmose ocular é uma das principais causas de uveíte posterior e pode levar a lesões inflamatórias graves na retina, comprometendo a visão de forma irreversível. Durante o surto em São Paulo, observamos pacientes com quadros de retinocoroidite ativa, necessitando de tratamento prolongado para controle da inflamação e prevenção de recorrências. A toxoplasmose ocular pode ocorrer tanto em infecções congênitas quanto adquiridas e, em alguns casos, a inflamação pode reaparecer ao longo da vida, muito tempo após o aparecimento dos sintomas sistêmicos. Importante uma avaliação com infectologista na fase aguda da doença, para que seja avaliado a recomendação do tratamento.
Prevenção e Medidas de Controle
Diante desses achados, algumas estratégias são essenciais para reduzir o risco de novos surtos:
- Cuidados com a Alimentação: O cozimento adequado das carnes reduz o risco de ingestão de cistos viáveis do protozoário. Além disso, frutas e vegetais devem ser lavados adequadamente antes do consumo.
- Manutenção da Saúde Ocular: Pacientes que apresentem ou tenham apresentado toxoplasmose sistêmica e com sintomas visuais devem procurar um oftalmologista para avaliação detalhada. A identificação precoce de lesões oculares pode fazer a diferença no tratamento e prognóstico da visão.
- Gestantes devem evitar o consumo e a manipulação de alimentos crus, assim como evitar a manipulação de caixas de areias com dejetos de gatos.
O estudo do surto de toxoplasmose em São Paulo reforça a importância de vigilância epidemiológica e medidas preventivas para evitar novos casos. A oftalmologia desempenha um papel crucial no diagnóstico e manejo das complicações oculares da doença, destacando a necessidade de um olhar atento para essas manifestações. Continuaremos acompanhando e estudando esse tema para contribuir com mais conhecimento e estratégias eficazes de prevenção.
Referência: Finamor LPS, Madalosso G, Levi JE, Zamora YF, Kamioka GA, Marinho P, Nascimento H, Muccioli C, Belfort R Jr. Toxoplasmosis outbreak in São Paulo, Brazil: Epidemiology and visual outcome. Arq Bras Oftalmol. 2024 Mar
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